A IA como catalisadora de um novo paradigma experiencial
- Rui Martins
- 23 de jun.
- 3 min de leitura
A introdução da IA na jornada do consumidor não é apenas uma otimização. É uma revolução de contexto, conteúdo e canal.
De acordo com o World Economic Forum e a BCG, os agentes inteligentes estão a assumir o papel de co-decisores. A Forbes descreve 20 formas surpreendentes pelas quais a IA está a moldar essa jornada: desde a comparação automática de produtos à curadoria de experiências personalizadas em tempo real.
A DialZara, por sua vez, alerta que o mapeamento da jornada precisa de considerar não apenas os touchpoints humanos, mas também os agentes que atuam pelo utilizador. Estamos perante uma nova era de navegação: a navegação delegada.
A jornada do consumidor passou a ser altamente fragmentada e assistida por múltiplos pontos de contacto mediados por IA. A atenção está dividida entre canais, mas a expectativa de resposta é imediata. A antiga linha do funil de vendas foi substituída por ciclos não-lineares de descoberta, consideração e decisão que exigem novas métricas e abordagens.
Questões críticas para os estrategas de marketing e comunicação
Como garantir presença nos resumos gerados por IA, mantendo a autoridade?
O meu conteúdo está otimizado para assistentes e motores generativos?
Quais os sinais de intenção que a minha marca já está a perder?
Como adapto a narrativa da marca a um contexto de consumo não-linear e mediado por IA?
O que significa fidelização quando a decisão é intermediada por agentes digitais?
Estas questões exigem uma reorientação estratégica profunda e uma aproximação integrada entre comunicação, produto e tecnologia.
Mudanças inevitáveis: o que fazer agora
1. Adotar uma abordagem Zero-Click Marketing
Crie conteúdo que gere valor imediato, mesmo que não resulte em cliques. Seja citado por IA, seja parte da resposta. Isto inclui estruturas claras, linguagem acessível e conteúdos úteis.
2. Reforçar E-E-A-T (Expertise, Experience, Authoritativeness, Trustworthiness)
A confiança torna-se o novo SEO. Atribua autoria, partilhe fontes credíveis e demonstre conhecimento aplicado. Estabeleça relações com entidades reconhecidas e publique conteúdos assinados por especialistas.
3. Optimizar para agentes, não apenas para motores
Use schema, dados estruturados e linguagem clara. Esteja preparado para ser interpretado por IA — não apenas lido por humanos. Invista em metadados, categorização e experiência de navegação assistida.
4. Desenvolver experiências omnicanal fluidas
Do chatbot ao email, do post social ao artigo técnico — tudo deve refletir uma identidade unificada e adaptada ao canal. Isto exige integração tecnológica e narrativa contínua.
5. Medir de forma diferente
Esqueça apenas pageviews. Acompanhe impressões em resumos IA, menções indiretas, comportamento em múltiplos canais e sinais qualitativos de confiança. Inclua KPIs como tempo em FAQ, taxa de resposta de IA, ou citação em snippets.
Casos e tendências a observar
Agentes IA como gatekeepers: Os consumidores confiam cada vez mais em agentes para gerir as suas decisões (calendários, compras, consultas, alertas).
Jornadas assistidas: Plataformas de e-learning e serviços financeiros já recorrem a IA para guiar o utilizador com base no seu histórico e comportamento.
Conteúdo atomizado: As marcas devem criar conteúdos modulares, capazes de serem lidos isoladamente por IA e humanos.
Micromomentos: A interação com a marca deve ocorrer no momento certo, no canal certo, com a mensagem certa — mesmo sem clique.
Conclusão: A relevância em tempos de disrupção
Estamos no limiar de uma transformação histórica no marketing digital. A IA não elimina a comunicação, mas muda os seus códigos e canais. Exige dos profissionais uma resposta que é tanto criativa como técnica, tanto estratégica como sensível.
A relevância já não se mede apenas em cliques ou visitas, mas na capacidade de ser citado, confiado e recordado por humanos e máquinas. Ao mapear a nova jornada do consumidor com precisão, investir em storytelling estratégico, e adaptar conteúdos para múltiplos canais e agentes, os profissionais de marketing podem não só captar atenção, mas criar confiança duradoura.
A disrupção chegou — cabe aos comunicadores decidirem se serão substituídos por ela ou se irão liderá-la.
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